segunda-feira, 25 de junho de 2012

Silêncio que se vai cantar o fado



 Aconteceu no concerto de Mariza, com Dulce Pontes e agora no do Carminho. Há pessoas que provavelmente não vão suficientemente motivadas para assistir a determinado tipo de espetáculo, ou pior que isso, a não deixarem assistir quem quer usufruir do mesmo. Na quinta feira passada, através de grafonolas vizinhas, tomei conhecimento que o pai da Teresa não  ainda não tem alvará; que a Susana se divorciou “do homem”; que a Tina e o Carlos estão à rasca para pagar a casa ao banco; que o Ângelo não tem emprego nas pedreiras e que já lhe tinham  tirado quinhentos euros por mês; no capítulo das fragrâncias, também ficamos a saber que o perfume dos chineses cheira a mijo de gato. Foi um emissão de notícias cor de rosa,fora de sede própria. Enfim, quase um zapping entra as novas da socialite life local e os fados de Carminho.

É provável  que alguma, ou muita desta gente, vá no séquito camarário das borlas, sempre convidativo ao passar por lá e, se não for por mais nada, nem que seja para dar uma vista de olhos, sei  lá, ver alguém. Tudo bem.Mas façam o favor de deixar ouvir quem pagou o seu bilhete, porque gosta deste tipo de música. Já no velho épico da cinemateca nacional “A Canção de Lisboa” entre palavras perdidas dos boémios pedia-se:”Silêncio que se vai cantar  fado”. Que se soltem os acordes musicais das guitarras, das violas e das vozes que assim cantam Portugal e que nos deixem escutar.

sábado, 2 de junho de 2012

Contracorrente






 No meio de tanta adversidade social e económica, não é fácil organizar um evento de cariz cultural. Mas mais de que isso, é manter uma certa dinâmica e um espaço vivo constante de mostra e partilha de projetos de índole diversos. Isto por que há gente nova, com espírito criador e vontade de afirmação, capaz de trazer a público uma cultura multifacetada, que quebra com uma certa submissão aos saberes assentes em perspetivas, viradas apenas para um habitualmente reinante passadismo dogmático. É um rasgo de inovação que nos dá prazer desfrutar. Faz-nos ver que, há outras coisas para além do gadídeo acompanhado das loiras liliáceas às rodelas; do rijão e das pomposas delícias sarrabulhentas; dos berros das chusmas e das vuvuzelas aborígenes. Fiquemos então contentes, pois por aqui, também há outra cultura.